sexta-feira, 16 de novembro de 2012

As Sandálias do Pescador

Acho que vou ficar conhecida como "a dos livros antigos". Comecei indicando "A Convidada" e agora venho com um romance de Morris West escrito em 1963. Juro que leio coisas atuais, mas quando penso no que indicar aqui, vêm a minha mente os meus livros mais adorados. Aliás só não comecei com Saramago, porque é Saramago e se é, já é indicado.

A primeira frase de "As sandálias do pescador" é a base da história: "O papa morrera.". É em Roma, a partir da morte do papa, que a história se descortina. 

Contando detalhes dos rituais que sucedem o morte de um papa até que um novo seja escolhido, o autor inicia a narrativa que será palco para questionamentos e reflexões. Religião, espiritualidade, moral, ética e verdade são conceitos trabalhados na história sobre vários ângulos, fatalmente levando o leitor à reflexão. 

Não é um livro católico, nem religioso. Muito menos tem algo de autoajuda. É um livro de uma época em autoajuda não fazia sucesso, se é que existia. A reflexão é do autor, a reflexão do leitor é consequência. 

"É boa coisa que eu tenha conservado o senso de humor; seria levado à loucura pelas consequências das minhas atitudes mais triviais. Sempre que um homem na minha posição formula uma simples pergunta, todo o Vaticano começa a esvoaçar, como pássaros perturbados em seu ninho. Qualquer movimento que eu faça, é como se estivesse tentando abalar os alicerces do mundo. Só posso fazer o que julgo ser justo, mas há sempre vinte pessoas, pelo menos, com idêntico número de razões que me impedem o menor movimento... e eu seria um louco, se não ouvisse as suas opiniões!"

Grande parte destas reflexões ficam expressas através do diário do novo papa. É através das reflexões deste personagem, principalmente da dualidade homem comum/homem poder, que os acontecimentos dentro do Vaticano, em Roma e na vida das personagens são explorados, deixando de ser meros acontecimentos. 

A parte isso, fica a curiosidade nos detalhes que o autor oferece sobre os rituais e o dia a dia do Vaticano, uma cidade-estado sede de uma religião.

As sandálias do pescador é um livro empolgante, daqueles que o texto prende desde as primeiras linhas. Apesar de reflexivo, nada é exagerado e cansativo. A história acontece rapidamente e as reflexões a acompanham. E por tudo isso eu o indico. Podem ler, vale a pena. 

"- O meu é Kiril Lakota.
- Já sabia. O papa das estepes...
- É assim que me chamam?
- Entre outras coisas... Diga-me, Santidade, essas histórias que contam a seu respeito, do tempo que passou na prisão, da sua fuga... são autênticas?
- São, sim...
- E agora está de novo na prisão.
- De certo modo, mas espero fugir a ela. 
- Todos nós vivemos numa prisão, desta ou daquela forma.
- Tem razão... E são os que o compreendem que mais sofrem.
Ruth ficou silenciosa por um momento, olhando para os mármores do Forum. Perguntou-lhe então:
- Acredita, de fato, que está metido nos sapatos de Deus?
- Acredito.
- E como se sente?
- Aterrorizado."

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